A BTL, referenciada como a montra do turismo português, é o espaço onde as entidades públicas vão exagerar os seus sucessos turísticos, e os restantes agentes e profissionais do sector se encontram, anualmente, para os cumprimentos da praxe, antes de iniciar mais uma época turística.
Baptizada de MEDITUR nos idos anos 70 do século passado, ganhou nova designação e transferiu-se da antiga Feira das Indústrias de Lisboa (FIL), ali para os lados da Junqueira, para o moderno Parque das Nações no virar do novo milénio.
As Feiras de Turismo são, por sistema, marcadamente exportadoras. A BTL não é excepção. Acontece assim um pouco por toda a Europa, designadamente nos principais países fornecedores de turistas para o nosso País, (Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, etc.).
Assim sendo, as Feiras de Turismo são construídas no respeito pelos interesses dos canais de comercialização e distribuição de férias e à medida dos destinos que pretendem atrair os consumidores oriundos desses países, assim como das mais elementares regras do marketing e dos mercados emissores e receptores de turismo.
Daí que, os operadores turísticos nacionais e as representações estrangeiras, à semelhança do que acontece connosco quando vamos às várias feiras internacionais de turismo, se apresentem na BTL para promover os seus produtos e programas de férias, tanto mais que o mercado interno, quando viaja no seu próprio país, recorre pouco aos serviços dos agentes de viagens, (cerca de 2%), optando por reservar directamente junto dos hotéis e empreendimentos turísticos.
Nestes termos, e independentemente de muitos dos visitantes nacionais do certame, optarem por fazer férias em Portugal, a verdade é que a BTL deve ser entendida, sobretudo, como uma organização que patrocina a venda de férias de portugueses no estrangeiro. A presença de alguns grupos hoteleiros nacionais justifica-se mais por razões de afirmação e consolidação empresarial do que para efectivar negócios.
O facto do organismo responsável do turismo nacional (TdP) suportar, em grande medida, os custos de realização da BTL, embora com a comparticipação semiforçada de outros organismos públicos, (Entidades Regionais de Turismo, Câmaras Municipais, etc.), não deixa de ser algo contraditório com a sua missão e objectivos - a promoção interna e externa da oferta turística portuguesa -, ao invés de fomentar, ainda que indirectamente, a saída de cidadãos nacionais para o exterior.
A distribuição de uns prémios e galardões às personalidades do costume, não consegue disfarçar as fraquezas da BTL, traduzidas numa incapacidade em atrair, em quantidade e qualidade, expositores e profissionais compradores e comercializadores das nossas ofertas turísticas.
Uma BTL, fortemente subsidiada, com verbas que, em primeira análise, estão afectas à promoção turística portuguesa, quer se queira quer não, representam mais uma fragilidade do nosso turismo que importa encarar com realismo e determinação, face às poucas contrapartidas dos investimentos efectuados.
Por outro lado, e sendo a BTL direccionada, essencialmente, para os profissionais do sector, o calendário escolhido é irrealista e desajustado dos interesses turísticos, uma vez que, por um lado, os negócios foram celebrados muito meses antes e, por outro, ainda é muito cedo para iniciar a sua renegociação.
Neste contexto, o sucesso da BTL depende, largamente, desta ser capaz de se transformar num grande espaço de debate sobre o turismo em Portugal, já que a qualidade dos eventos paralelos que aí decorrem é, normalmente, desinteressante e deslocada das realidades do sector e dos empresários, passando ao lado das grandes questões que preocupam a actividade turística portuguesa nas suas várias vertentes.
A BTL é um espaço privilegiado de confraternização entre o sector empresarial e turístico nacional, constituindo a promoção e comercialização de férias de nacionais para destinos terceiros a sua maior fragilidade, na medida em que é feita ao arrepio dos interesses daqueles cujos negócios é atrair turistas do exterior, como é o caso do turismo do Algarve.
Por tudo isto, a BTL pode não ser a coisa mais importante do turismo português, mas é, certamente, uma das mais peculiares que, de uma maneira ou outra, ajudam a tornar este sector cada vez mais estratégico e prioritário da economia nacional.
* Presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve