
Almargem alerta para “atentados” contra o coberto vegetal tradicional no sotavento
A associação ambientalista Almargem alertou para os constantes “atentados” contra o coberto vegetal tradicional, uma das áreas-chave para a classificação da dieta mediterrânica como património da humanidade, em vários pontos do sotavento algarvio.
Segundo os ambientalistas, nos últimos anos, o Vale da Asseca, incluído no Aproveitamento Hidroagrícola do Sotavento, tem sido um dos alvos principais desta “maré sempre crescente de destruição da paisagem mediterrânica ancestral”, com “sucessivos terraceamentos das encostas e ripagens de alto-abaixo dos cerros”, essencialmente para cultivo de laranjais e vinha.
Também os casos da Torre d’Aires - sítio arqueológico romano que “tem vindo a ser arrasado desde há décadas para fins agrícolas de caráter intensivo, com a complacência das autoridades” -, do sítio da Fábrica - em que foram, há algum tempo, “abatidas várias oliveiras e alfarrobeiras centenárias” -, e do sítio da Balieira - em que “mais uns largos hectares de amendoeiras, alfarrobeiras, figueiras e oliveiras (algumas das quais de grande porte e respeitável idade) estão a ser dizimados” -, são citados pela Almargem, em comunicado.
A Associação Almargem “repudia profundamente esta situação de «vale tudo», a qual considera inaceitável”, apelando às autoridades que assumam uma “atitude mais ativa e crítica no que respeita ao incremento dos projetos de produção agrícola não tradicional, em detrimento de áreas com vegetação natural, pomares de sequeiro e outros terrenos de cultivos tradicionais, que devem ser preservados”.
Os ambientalistas exigem ainda que a Assembleia da República e o governo procedam a uma alteração legislativa para a reversão do regime de exceção “obsceno” dos Perímetros de Rega e Aproveitamentos Hidroagrícolas, “cuja manutenção, tal como está, se revela lesiva do património natural e da identidade paisagística da região”, sustentam.
Caso as entidades referidas “nada façam e esta situação se mantenha inalterada”, a Associação Almargem promete elaborar um dossiê “que inclua os mais recentes atentados aí perpetrados”, para enviar à consideração do Comité do Património Mundial da UNESCO.