
No passado mês de agosto, durante um embarque, na costa algarvia, a bordo de um arrastão comercial, no âmbito do projeto MINOUW (Iniciativa para a minimização de capturas das capturas indesejadas nas pescarias europeias), investigadores do IPMA e do CCMAR, registaram a captura de um tubarão com características pouco comuns.
Verificou-se ser um macho da espécie tubarão-cobra (nome latino, Chlamydoselachus anguineus), com cerca de 1,5 metros.
Este tubarão, um verdadeiro “fóssil vivo”, possui um corpo longo e esguio e uma cabeça que lembra a de uma cobra.
Apresenta também uma dentição muito particular, sendo a sua biologia e ecologia pouco conhecidas. Não obstante ter uma vasta distribuição geográfica, ao longo de todo o atlântico, desde a costa norueguesa, passando por águas escocesas, da Galiza, Açores, Madeira e Canárias, descendo a costa africana até ao Índico, atingindo, ainda, o Japão, Austrália e Nova Zelândia, não é muito frequentemente capturado devido às profundidades a que vive.
O presente exemplar foi capturado aos 700 metros de profundidade, em águas algarvias.

O que é um “Fóssil Vivo”?
"Fóssil vivo" é uma expressão utilizada informalmente para qualificar organismos de grupos biológicos atuais que são morfologicamente muito similares a organismos dos quais há conhecimento no registo fóssil.

Esta designação resulta do facto de, no século XIX, numa fase inicial dos estudos paleontológicos e biológicos à escala global, quando muito ainda havia por descobrir nos mares e florestas atuais, alguns destes grupos biológicos terem sido originalmente identificados com base no registo fóssil, sendo classificados como extintos, ec só depois sido descobertos , vivos. na atualidade. Daí a expressão "fóssil vivo".
Os exemplos mais conhecidos são os do celacanto (Latimeria chalumnae e Latimeria menadoensis), um peixe, e da metasequóia, árvore descoberta em 1943 num remoto vale da China.
Outros são organismos pertencentes a espécies atuais, sem parentes próximos na atualidade, que são as únicas representantes de grupos biológicos de categoria superior com um registo fóssil abundante e diversificado.
Um exemplo bem conhecido é o da árvore Ginkgo (Ginkgo biloba) e o lagarto Tuatara (Sphenodon spp), com dois representantes atuais.
Há que salientar que estes indivíduos atuais, estes "fósseis vivos", apesar de muito similares aos seus parentes conhecidos do registo fóssil (do Cretácico, no final do Mesozóico, por exemplo, no caso dos celacantos), não pertencem, exatamente, às mesmas espécies. Não são, portanto, a mesma entidade biológica.
A expressão "fóssil vivo" é tão popular e utilizada de modo tão indiscriminado que, muitas vezes, é usada apenas para designar organismos atuais com aspeto invulgar ou grotesco e que por isso parecem, ao leigo, "primitivos". Também nem todo fóssil vivo deve ser considerado uma espécie de pouca abundância ou isolada em ambiente remoto.
- * com comunicado de imprensa IPMA