A entrega de duas moções sobre o estado do Sistema Nacional de Saúde (SNS), por dois autarcas de «cores» políticas diferentes (PS e PSD), acirrou o debate na reunião ordinária desta sexta-feira da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL).
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro eleito pelo PSD, autor de um texto sobre o estado do SNS no Algarve que “gostaria de ver consensualizado” com os outros autarcas, manifestou-se surpreendido por Isilda Gomes, autarca de Portimão eleita pelo PS, ter entregado um documento sobre o mesmo tema.
A situação abriu caminho a um acirrado debate político e partidário sobre o SNS no Algarve e sobre críticas a governos da mesma «cor» que o presidente da AMAL, Jorge Botelho, considerou estar “latente” há algum tempo, acabando por ser adiada a votação das moções.
“Quebrou-se um princípio de consenso e hoje pode ser o primeiro dia de uma nova AMAL. Se não for possível conversar, quem perde é o Algarve”, atirou Rogério Bacalhau, durante a sessão do Conselho Intermunicipal – que integra os presidentes de câmara –, em alusão à possível partidarização do órgão que reúne as 16 autarquias.
“Se já temos pouca força, porque não temos tomado posição sobre nenhum tema, se enveredarmos por partir a AMAL, aí temos menos força”, disse o autarca farense aos jornalistas, após a reunião.
Nas declarações aos jornalistas, Bacalhau salientou que os autarcas se devem “despir” dos seus partidos e das suas ideologias no seio da AMAL, “tomando posições e chamando as atenções para o que está mal”, como é o caso da saúde.
Isilda Gomes sustentou que não quis partidarizar a questão, mas apenas lembrar a “história que está por trás” do mau estado do SNS no Algarve, com “quatro anos de gestão arrasadora do PSD que não se reverte em dois anos”.
Durante o debate, a autarca classificou a situação atual da saúde no Algarve como “ground zero”, o nome pelo qual ficou conhecida a zona do World Trade Center, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
“O meu colega enfatizava apenas o que está mal. Na minha moção, eu enfatizo o que está mal mas elenco todas as questões [anteriores] e faço um levantamento do que já foi feito [no governo PS]. Não podemos ter a memória curta”, referiu aos jornalistas.
A presidente da Câmara de Portimão ressalvou que a saúde “não está bem” no Algarve e que, no seu município, “todos têm saudades” do que era o Hospital de Portimão há seis anos – antes da entrada do governo PSD/CDS-PP –, garantindo que já alertou o ministro da Saúde e o primeiro-ministro para a situação.
Durante o debate entre os autarcas, Rogério Bacalhau salientou que a AMAL continua “à espera” de uma visita prometida pelo ministro da Saúde há mais de dois anos e Vítor Aleixo (PS), presidente da Câmara de Loulé, assumindo que as maiorias políticas na AMAL estarão sempre “solidárias” com um governo da mesma cor política, manifestou-se “contra” a utilização da AMAL “como arma política contra o governo”.
A presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, que tinha pedido a palavra para comentar o assunto, acabou por não o fazer, preferindo abandonar a reunião a meio da discussão.
O presidente da AMAL e da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, fechou o debate com a garantia de que o ministro da Saúde e os responsáveis da Administração Regional de Saúde e do Centro Hospitalar Universitário do Algarve vão ser convidados para reuniões com os autarcas algarvios.
“Não me parece legítimo dizer que a AMAL está calada porque o governo é PS”, afirmou o autarca socialista, apelando aos seus colegas que “não matassem o consenso à priori” e deixando a votação das moções para nova oportunidade e após mais “discussão”.
“O recado que levo daqui é que temos de pôr mais política nisto. Temos de libertar a agenda para discutir mais política”, concluiu Jorge Botelho.