Mal acabou a época futebolística em Portugal, no final de maio, seguiu-se o inicio do campeonato do Mundo, na Rússia, em 13 de junho. Contudo, as polémicas que foram decorrendo durante o ano, prenunciavam um “verão quente” no futebol português, ainda mais depois do rebentamento da “bomba chamada Sporting” que, embora tenha sido acompanhada por um “ato belicistas ou terrorista” como assim o definiu o juiz que pegou na “batata quente” da invasão e agressão na academia do Sporting, em Alcochete. Desde aquela data, o “caso Sporting” tem-nos mostrado o lado triste do futebol português. É mau de mais para ser verdade aquilo que os dirigentes, ex-dirigentes, candidatos ou simples adeptos, têm feito ou dito, ao longo de mais de um mês, porque clubes como o Sporting, o Porto e o Benfica são instituições de utilidade pública, não confundir com as SADs, estas sociedades anónimas desportivas, com milhões de adeptos e simpatizantes, no país e no estrangeiro onde vivem os emigrantes, que “sentem” a vida do seu clube com uma “afetividade” de grau diverso, e com sentimentos únicos e sem comparação àqueles que cada um sente e vive na família, na vida profissional, na vida social, etc. A “paixão clubística” não tem explicação e, por isso, é única e, em muitas situações, ela é também uma “herança familiar” e pode servir para criar laços de convívio e de amizade, mas também geradora de grande animosidade. Nela, muitos se transfiguram assumindo atitudes duma personalidade que não aquela que exibem nos restantes papéis que desempenham na sociedade. Porquê esta transfiguração assumida mesmo por figuras públicas e que deveriam servir de exemplo? “No futebol, reconheço que não sou o mesmo”, dizem, quando têm oportunidade de rever as suas atitudes perante os adversários, atletas do seu próprio clube, árbitros, etc.
A explicação principal para estes comportamentos só pode ser uma: falta de educação, não confundir como formação ou nível cultural, porque são coisas muito diferentes, baixo nível cívico, ódios e agressividade incontida, ambições pessoais e coletivas, etc. Há um ditado popular que diz: “Se queres ver um vilão, coloca-lhe um pau na mão”. Extrapolando este ditado, poderíamos dizer que é no futebol, mais do que noutras modalidades desportivas, que se vê o nível educacional e cívico dos adeptos, dirigentes, atletas e demais agentes, incluindo a imprensa desportiva porque esta provoca e alimenta estas “guerras” para ter matéria com que alimenta as muitas e muitas horas de programação e as muitas páginas de jornais desportivos e generalistas. Triste, muito triste, é o que se passa na “sociedade futebolística” portuguesa que nem a pobre atuação da equipa nacional no mundial na Rússia consegue apaziguar. Aliás, a “pobreza futebolística”, com exceção de três ou quatro jogadores, é ela também reflexo do dirigismo desportivo e da política (ou falta dela) desportiva dos sucessivos governos que, contudo, gostam de aparecer na primeira fila, quais oportunistas, quando alguns êxitos acontecem. Aí são os primeiros, mas nos casos tristes do futebol português, fazem como “Pilatos”. As acusações/insinuações de corrupção, influência de resultados e agora a “vergonha Sporting” não são suficientes para envolverem os governantes, ou o futebol é um mundo à parte, onde tudo é permitido, incluindo “atos terroristas” (definição do juiz) perpetrados por “exércitos bem organizados”, (claques) mortes, etc, apesar do Poder Judicial, normalmente assoberbado com muitas outras áreas de intervenção, ainda ser um certo travão, mas, obviamente pela sua função, só o pode fazer de forma reativa e não preventiva. Esta pertence aos governantes e dirigentes e estes andam distraídos, pois, verdade seja dita: “tudo começa no berço e continua na escola, etc.” e os educadores (pais, professores, etc.) perderam a sua vocação para desempenharem esse papel e os resultados estão na frente dos nossos olhos, sendo o futebol o mais mediático e triste exemplo.
Eventos como o presente campeonato do mundo de futebol, a decorrer na Rússia desde meados de junho, com a participação de trinta e duas “seleções nacionais” oriundas dos cinco continentes, com culturas, raças e regimes políticos diferentes, mostram, dentro do campo e na organização sob a égide da FIFA, organismo máximo do futebol mundial, o lado bom do futebol. Depois, nas bancadas dos estádios e nas ruas e praças das cidades onde decorrem os jogos, os adeptos da “sua equipa nacional”, qual exército com que se vencem as nações “adversárias e inimigas”, tendo como arma apenas uma bola de futebol, exibem uma amostra dum todo que é a sua nação. E nós, longe, mas através dos media, somos observadores e, ficamos a conhecer um pouco de cada um dos trinta e dois povos que, permitindo as exceções, nos dá uma ideia do seu nível educacional e cívico. “O futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes”, assim o deveríamos entender, mas, infelizmente, ele, para alguns, é o palco onde podem mostrar o seu lado pior como pessoas. São minorias malfeitoras, mas que podem mobilizar as maiorias para o seguidismo dos populismos e oportunismos. É pena que quer no futebol quer no amor clubístico haja tantos malfeitores que, com as suas atitudes, geram tristeza e desencanto em milhões de adeptos. Inimaginável este “caso Sporting”.
* Economista/Reformado