Depois das eleições deste 6 de outubro, um dia após a data histórica em que se assinala a queda da monarquia constitucional e proclamado o regime republicano em Portugal, o panorama político em Portugal não diverge muito do que ocorreu na última legislatura (2015 - 2019).
Numa apreciação superficial aos resultados deste ato eleitoral, ressalta-me uma primeira reação de continuidade, que é o mesmo que dizer, vamos ter mais do mesmo nos próximos quatro anos, embora com ligeiras contrariedades, ou melhor dizendo, idênticas conformidades.
Ou seja, António Costa pode continuar na liderança política portuguesa, segundo as preferências dos portugueses, mas vai ser obrigado a fazer alianças à esquerda, semelhantes às que lhe conferiram legitimidade governativa até aqui.
Costa, para reunir uma maioria de 116 parlamentares na Assembleia da República que permita a sua permanência no cargo, vai estar sujeito ao apoio do Bloco de Esquerda, que deve obter 17 assentos parlamentares, ou do Partido Comunista Português, que provavelmente irá ter 16 deputados eleitos.
Como se sabe, Costa governa suportado numa coligação que já une aqueles dois partidos (BE e CDU) ao seu PS, a qual foi apelidada de “Geringonça” no início de seu mandato, em 26 de novembro de 2015.
Resumindo, nada se irá alterar substancialmente na governação de Portugal.
Costa deverá prosseguir num clima de tranquilidade, assessorado à esquerda mas, inteligentemente, fazendo algumas cedências ao Partido Social Democrata, seu maior opositor, em toda a linha. E não vai ser difícil!...
Hoje, o país regista o seu melhor crescimento nas últimas décadas (3,52% em 2017 e 2,44% em 2018), o déficit público irá reduzir para 0,2% neste ano de 2019 e o desemprego que caiu para 6,4% em julho, constitui outro marco histórico no qual o PCP não poderá suportar-se principalmente.
Apenas mais duas ou três notas que me suscitam maior atenção.
Rui Rio, que não conseguiu reunir uma maioria de consensos a nível nacional, muito em parte devido às dissidências de grande políticos que o deixaram a "falar sozinho", nomeadamente Santana Lopes e outros, se quiser manter-se líder vai ter que reunir a verdadeira social democracia portuguesa e sufragar de novo o seu estatuto de líder...
Quanto a Assunção Cristas - que já renunciou (hoje) à liderança do seu CDS-PP - creio que se terá 'suicidado' politicamente após estas eleições e o que a espera será uma "travessia no deserto", situação que poderá abrir espaço a um eventual regresso do ex-presidente do partido Paulo Portas. Aliás, devido à coligação (PSD/CDS) em 2015 é muito difícil analisar com precisão as perdas e ganhos de votos em termos comparativos (nestas eleições o PSD mais o CDS registaram 45.088 votos, contra 59.950 averbados na coligação de 2015), por isso apenas se pode concluir que tanto o PSD como o CDS em primeira análise saíram a perder.
Relevância para o PAN, ao subir no conceito dos portugueses, embora sem ter demonstrado nada de novo ou de superior interesse para o progresso do país.
Algarve mais rosado e menos alaranjado
Em termos do número de mandatos no Algarve em comparação com 2015, o PS ganha mais um e conquista a maioria absoluta regional - 5 para o PS e 3 para o PSD - enquanto o Bloco de Esquerda fica de novo com 1 deputado e o PCP perde o seu representante algarvio no Parlamento.
Assim, analisemos a quantidade de votos reunidos por cada força política, comparativamente a 2015:
o PS conquistou agora 63.480 votos (mais 1.058 que em 2015), reforçando assim a sua liderança regional para a maioria absoluta;
o PSD averbou 38.504 votos (perdeu 21.446), mantendo ainda assim o mesmo número de mandatos, o que significa que a liderança regional de Cristóvão Norte não foi minimamente legitimada;
o Bloco de Esquerda alcançou 21.255 votos (menos 5.667) indo a descer por um caminho idêntico, embora de forma mais suave;
e o PCP-PEV que reuniu 12.182 votos (menos 4.357 que em 2015) acaba de perder o seu representante algarvio no parlamento.