A Universidade de Évora (UÉ) e o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente assinaram um protocolo para a criação de sinergias entre os projetos de conservação que cada entidade coordena na serra de Monchique.
O objetivo passa por “conservar um dos habitats naturais mais raros da Europa e um dos mais singulares da serra de Monchique”, refere a academia alentejana.
A Universidade de Évora coordena o Life-Relict, que visa a conservação das comunidades arborescentes de espécies lauróides – habitat prioritário para a conservação listado no Anexo I da Diretiva Habitats com o código 5230.
É na serra de Monchique que vivem as plantas testemunhas das florestas de laurissilva que ocuparam a Península Ibérica em épocas geológicas passadas, quando o clima dominante era do tipo subtropical.
Nesta situação estão os raros Adelfeirais, dominados pelos imponentes arbustos de rhododendron ponticum subsp. baeticum, espécie florística escassa e fragmentada nas áreas do oeste da Península Ibérica.
Entre as mais variadas ações concretas de conservação levadas a cabo pelo Life-Relict, destacam-se as que pretendem beneficiar as etapas maduras da sucessão ecológica, incluindo os bosques potenciais da serra de Monchique.
Pretende-se incrementar a área de floresta autóctone e, por conseguinte, aumentar a resiliência e a robustez deste habitat prioritário, face à exposição das ameaças mais significativas, como é o caso dos fogos, das intervenções silvícolas inadequadas, propagação de espécies exóticas invasoras, alterações climáticas, entre outras.
Simultaneamente, o GEOTA coordena o projeto Renature Monchique, projeto que visa restaurar os principais habitats da Rede Natura 2000 afetados pelo incêndio de 2018 que consumiu mais de 27 mil hectares.
Está previsto renaturalizar a paisagem da serra de Monchique com mais de 75 mil árvores de espécies autóctones, contribuindo para o bem-estar da comunidade local e mitigar os futuros impactes das alterações climáticas no território.
Como os objetivos específicos dos dois projetos se complementam, “tornou-se evidente a necessidade de uma cooperação entre as entidades coordenadoras, potenciando o melhor sucesso na salvaguarda do património natural” da zona.
A serra de Monchique tem cerca de 78 mil hectares e alberga mais de duas dezenas de habitats naturais e seminaturais, cinco deles considerados prioritários para a conservação pela Diretiva Habitats (92/43/CEE), sendo por isso designado Sítio de Importância Comunitária (SIC).
Trata-se de um contexto biogeográfico muito particular, onde existem espécies florísticas raras, algumas endémicas e outras ameaçadas de extinção, como é o caso do carvalho de Monchique (quercus canariensis), que confere particular valor à floresta autóctone da serra monchiquense.
Contudo, a atividade económica com ocupação de solo mais expressiva é a florestal, onde algumas dezenas de milhares de hectares estão ocupados com povoamentos de eucaliptos e pinheiros bravos.
Adicionalmente, a maioria da área deste SIC tem uma dinâmica socioeconómica frágil e a propensão para o abandono é bastante elevada, uma vez que o rendimento do trabalho está a menos de 60% da média da região (Algarve). “Talvez por isso, os fatores de ameaça mais significativos sejam a florestação intensiva com espécies exóticas, os incêndios florestais, a destruição da vegetação autóctone, a expansão de espécies exóticas invasoras bem como as alterações climáticas, entre outras ameaças que, comutativamente, estão a contribuir para uma franca degradação da floresta autóctone da Serra de Monchique”, referem as duas entidades.
Para mais informações sobre cada projeto, visite os sítios do projeto do Renature Monchique e do Life-Relict.