
Espólio de antiga tipografia e história da cultura escrita serão “novo polo de atração cultural” em Faro
Três entidades deram hoje o “primeiro passo” para a musealização do espólio da antiga Tipografia União, em Faro, que aliado à história da cultura escrita na região permitirá constituir um “novo polo de atração cultural” na cidade.
“A ambição é de criar um núcleo museológico em torno da antiga Tipografia União, mas [este processo] vai muito além disso. (…) O objetivo é termos condições para estabelecer um rumo e uma proposta de uma nova atração cultural e, sobretudo, de um novo pilar cultural e de criação de conhecimento”, explicou Alexandra Gonçalves, docente e coordenadora da equipa que fará o estudo para a criação do núcleo museológico, à margem da assinatura do protocolo entre Diocese do Algarve, Câmara Municipal de Faro e Universidade do Algarve, representados pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, e vigário-geral da diocese, cónego César Chantre, presidente da autarquia, Rogério Bacalhau, e reitor, Paulo Águas, respetivamente.
A antiga tipografia União, propriedade da diocese e localizada na Vila Adentro (a zona mais antiga da cidade), funcionou entre 1909 e 2013. Criada para imprimir o boletim da Diocese, que deu lugar ao jornal Folha do Domingo, em meados do século passado eram ali impressos quase todos os jornais algarvios.
O seu espólio integra máquinas tipográficas e prensas “muito relevantes, com grande valor histórico e únicas”, além de “um enorme acervo documental”, de acordo com Alexandra Gonçalves, docente da Universidade do Algarve.
“A história daquele espaço não é só a história de Faro, é a história de uma região e a história de vários períodos que demonstram que, culturalmente, o Algarve teve uma relevância que é desconhecida da maior parte da população”, salientou a autora da proposta para o desenvolvimento do estudo.
A importância da cultura escrita na cidade e na região remonta, por exemplo, ao primeiro livro impresso em Portugal - o Pentateuco, que saiu do prelo de Samuel Gacon, situado precisamente em Faro (1487).
A equipa multidisciplinar liderada por Alexandra Gonçalves integrará especialistas na área da gestão cultural, história, computação e sistemas de informação, design e audiovisuais e comunicação.
Depois da inventariação do espólio da antiga tipografia, levantamento de testemunhos em torno do espaço, estudo documental da imprensa escrita e da cultura impressa em Faro e no Algarve e visita a outros museus relacionados com a imprensa, incluindo no estrangeiro, serão identificadas “as narrativas de maior significado” e “pensar como podem ser contadas ao público”.
“Será feita uma proposta de criação de uma narrativa e dos instrumentos de apoio e interpretação para a apresentação dessas histórias ao público. Será uma proposta inclusiva, multissensorial e de maior interatividade, com uma base tecnológica, ao encontro das tendências da nova museologia”, disse Alexandra Gonçalves sobre o projeto de musealização. O estudo deverá estar concluído até ao início de 2022.

O vigário-geral da Diocese do Algarve, cónego César Chantre, alertou para o “avançado estado de degradação” do edifício, sublinhando que o projeto permitirá “enriquecer o núcleo histórico” da cidade, onde se situa também a Sé Catedral e o Paço Episcopal.
Para Rogério Bacalhau, o projeto, que estava a ser pensado pelas partes há vários anos, permite “preservar o que faz parte da identidade farense e da história da cidade”.
O reitor da UAlg, Paulo Águas, salientou que o futuro museu poderá potenciar a história da Vila Adentro “como cidadela de conhecimento e como núcleo cultural que deve ser o ‘ex-libris’ de Faro”, cuja história ainda “é desconhecida” por muitos.