Se a lei de Moore, que prevê uma duplicação no poder de computação a cada dois anos, continuar a verificar-se, o que tem sucedido desde há umas décadas a esta parte, é possível que muitos de nós (os que ainda conseguem seguir o fio à meada) deixem de ser capazes de acompanhar o constante progresso. Ainda que leiga, uma grande parte da população ocidental entende o que é a internet e o estar online, algo que deve ter parecido alienígena quando surgiu. Porém, o tempo para nos adaptarmos a cada mudança é cada vez menor – ou assim parece. No meu caso pessoal, sinto-me ainda capaz de estar minimamente a par dos avanços científicos, embora cada vez mais perto da fronteira de o não conseguir fazer. Chamemos a isto o envelhecimento tecnológico (a par do conceito de “envelhecimento cultural”). De algum modo, é como se o fosso entre a evolução biológica e tecnológica se agigantasse. Hoje, fazer uma previsão para os próximos 10 anos acarreta a mesma probabilidade de erro do que na idade média uma previsão para os próximos cem (eis uma das leis do Fábio Nobre). É impossível saber onde estaremos em 2031. Isso tem tanto de fascinante quanto de assustador.
Sinto que, atualmente, o excesso de informação e formas inovadoras de comunicação estão a redundar num ruído tremendo. Num certo sentido parece que, na ânsia de sermos ouvidos, nos esquecemos de ouvir. Simultaneamente, são tantos os estímulos disponíveis, que saber simplesmente para onde direcionarmos a nossa atenção se tornou numa tarefa hercúlea. Há tanto para saber sobre nada.
É incrível como estas ferramentas alavancam o melhor e pior que somos. Marte parece cada vez mais próximo na mesma proporção que o outro nos parece cada vez mais longe. As divisões ilusórias que nos separam estão a tornar-se mais reais. Olhamos para nós com a mesma incredulidade com que falamos de buraco negros. A tecnologia poderá vir a ser a ponte sobre o precipício mas, para já, parece-se muitas vezes com o precipício. Talvez venhamos a descobrir que o tempo não existe e vejamos o homem do futuro a ensinar os nossos antepassados a andar sob duas pernas.
Eu parto da assunção que apenas tenho esta vida, e um determinado momento de existência, um breve piscar de olhos do universo, que se reconheceu. Talvez a ausência de ódio surja quando todos virem claramente isso. Até lá, vamo-nos arranjando como podemos. Enfrentaremos ainda momentos de quase extinção antes de podermos extinguir esse perigo. Mas acredito que possamos conseguir. Acho que já comprámos o direito a sonhar com o futuro. É esse o combustível que nos alimenta, mas que também nos pode envenenar.
Nunca compreenderemos. Ainda assim, convictos, ignorantes, cheios de amanhãs, sei que faremos tudo ao nosso alcance para continuarmos.
Quanto a si, caro leitor/a, desejo que continue. É tudo o que podemos fazer. Basta que o façamos cada vez melhor.
* Escritor e Poeta