
“Tudo faremos para que a Região Administrativa do Algarve seja uma realidade” – Manuel Mestre / MPT
Manuel Mestre, cabeça de lista do MPT – Movimento do Partido da Terra pelo círculo eleitoral de Faro às eleições Legislativas de 30 de janeiro, concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal diariOnline Região Sul sobre algumas das prioridades e medidas imediatas para aplicar no Algarve.
Manuel Eurico dos Santos Mestre, 51 anos, natural de Faro. Praticante de surf, com inúmeros resultados de relevo a nível nacional e internacional, tornou-se depois empresário no setor do turismo. É presidente do Clube de Surf de Faro há 26 anos. Foi membro eleito na Assembleia de Freguesia de Faro durante 12 anos e, desde 2017, integra a Assembleia Municipal de Faro. Agraciado em 2016 com a Medalha de Ouro da cidade.
diariOnline Região Sul (dRS) – Quais as principais prioridades para a região algarvia?
Manuel Mestre (MM) – No Algarve, temos um problema grave de falta de mão de obra, principalmente na hotelaria e restauração. A captação de mão de obra qualificada é fundamental.
Arranjar soluções para a falta de água no Algarve; rede de transportes para aproximação do interior do Algarve com o litoral; uma alternativa à estrada nacional 125; a conservação da nossa orla costeira; a valorização dos recursos endógenos do Algarve; economia circular; e saúde.
dRS – Que medidas imediatas devem ser adotadas?
MM – Medida 1: O Algarve, por si só, tem as condições climatéricas ideais para atrair e fixar uma nova população, mas não é suficiente. A mitigação desta situação passa por acelerar o processo de cidadania para quem emigra para Portugal, por tornar o arrendamento mais acessível, construindo ainda habitação a custos controlados. Para as famílias mais jovens, potencia-se a fixação dando-lhes isenções - por exemplo - no IMI, cedendo terrenos municipais ou facilitando-lhes o crédito, numa altura em que o custo do m2 atinge valores incomportáveis para a realidade económica do país. Não obstante, relembrar a falta de subsídios que promovam e defendam a natalidade, bem como posteriormente tornar o acesso às creches gratuito.
Medida 2: Exigem-se novas formas de captação da água potável, otimizando os recursos existentes, em muitos casos suficientes, mas mal aplicados. A falta de água na região é uma realidade, e num futuro - não muito longínquo - pode correr com menor pressão ou com cortes sucessivos na rede do abastecimento. Tendo, com condições geográficas tão favoráveis, um recurso como a água salgada, a dessalinização, apesar de dispendiosa, deve continuar a ser uma solução em cima da mesa e equacionada tão rápido quanto possível. Não obstante e apesar da escassez da chuva, é fundamental potenciar a captação de águas pluviais e das águas das ETAR para o regadio dos campos de golfe e das árvores de fruto. Na rede das cidades, é fundamental que a perda de água potável seja combatida, de forma a que o lençol freático seja aproveitado a 100%.
Para a agricultura, devemos procurar maximizar os sistemas de rega para melhor aproveitamento dos recursos sujeitos ao clima e a todas contingências. Ainda sobre esta matéria, devemos ainda fomentar o cultivo de alfarrobeiras, figueiras e medronheiros, espécies autóctones, que resistem a seca e fazem parte na nossa cultura.
Medida 3: No barrocal do Algarve, a rede rodoviária está longe de ser a ideal, sendo consequentemente uma barreira por si só à fixação de famílias nas áreas afetas.
No entanto e a esse respeito, o problema da nossa rede rodoviária e ferroviária toma proporções alarmantes quando falamos da serra algarvia, principalmente nos limites dos concelhos.
É fundamental por isso a criação de vias de ligação diretas, entre o barrocal e a serra, para que essas pessoas se sintam mais próximas do litoral. A sua criação iria ajudar a suprimir a falta de mão de obra, contribuindo para a fixação de famílias e para o crescimento e desenvolvimento local e da região: todos sabemos que sem boas acessibilidades não há desenvolvimento nem fixação das populações.
Outra coisa que não é aceitável é a falta de uma ligação ferroviária com Espanha, particularmente numa região como o Algarve. Sei bem que se trata de um investimento altíssimo, mas se for sempre esse o argumento, deveria ser válido para todas as regiões. No futuro, se essa ligação fosse de alta velocidade, e ligasse Faro, Beja, Évora e Lisboa, era seguramente uma alternativa à utilização do automóvel ou do avião. No que diz respeito ao último, seria também uma mais-valia porque tornava a ligação entre aeroportos mais rápida e célere – e levando a um melhor aproveitamento do aeroporto de Beja e Faro, retirando ao tráfego do aeroporto de Lisboa o peso e a dependência que lhe são reconhecidos.
Medida 4: As Estradas de Portugal transformaram a Nacional 125 numa via urbana, em que a última remodelação não foi mais que um autêntico crime à circulação no nosso Algarve. Os sucessivos traços contínuos e os limites de 50 km/h provocam atrasos nos transportes públicos, nas entregas de bens e serviços e, em muitos casos, levam à perda de voos e, por consequência, a uma experiência menos feliz para quem nos visita. O ROI (Return of invesment) algarvio, é seguramente afetado por isso.
A situação na nacional 125 é, por isso, insustentável e tendo em conta que retirar as portagens na A22 não será uma realidade, é fundamental intervir. A questão das portagens, ainda que não resolvesse todos os problemas que existem, é bem verdade que resolveria alguns…
Uma alternativa seria o seu alargamento, que no caso da N125 é impossível pelas condições inerentes, tornando como única alternativa a construção de uma nova estrada a norte da A22, com ligações ao litoral, barrocal e serra.
O MPT, sendo um partido ambientalista, sei que poderá ser alvo de crítica com esta medida, no entanto e colocando as pessoas e famílias em primeiro lugar, temos de propor condições e alternativas que promovam e defendam a sua sobrevivência, fixação e desenvolvimento.
Medida 5: A nossa orla costeira é o nosso maior tesouro, mas não apenas para os Algarvios, também para a maioria de quem nos procura e que traz sustento e riqueza à região, pelo que são necessárias medidas urgentes de conservação das arribas e do cordão dunar, assim como a limpeza e conservação das praias. No entanto, que fique claro que somos contra a retirada das populações das ilhas, pelo derrube de construções já existentes, mas seremos sempre a favor de que não sejam concedidas mais licenças de construção no futuro. Existem alternativas no barrocal, pertíssimo do litoral, a necessitar de desenvolvimento, de forma sustentável e sem fragilizar a componente identitária regional.
Medida 6: Há uns anos foram dados aos nossos agricultores e pescadores subsídios para o abate de árvores e embarcações, sendo que em muitos casos não foram depois investidos no setor, levando-o a perder competitividade.
Com o desenvolvimento dos mercados, é imperativo que se volte à terra e ao mar para aproveitarmos os nossos recursos, que no fundo deveriam ser não apenas um desígnio natural, mas uma estratégia de senso comum.
Vejamos. Em 2010 houve uma simplificação do Promar e do Proder, que visava atribuir um conjunto de apoios ao desenvolvimento do sector primário. Que efeitos teve? O que foi criado? Quantos empresários foram abrangidos? Que impacto deve na economia?
O voltar à terra, com o cultivo de árvores como as alfarrobeiras, as figueiras, os medronheiros, as laranjeiras e oliveiras, era potenciar a economia pela mão da tradição e da cultura natural da nossa região.
Em relação às pescas, afortunadamente, a que é praticada na nossa região é sustentável, praticada em pequenas embarcações artesanais não provocando um impacto significativo. Essa sim deveria ser defendida, pela influência direta nas economias familiares e não ser abrangida de forma generalista pelas medidas que procuram limitar a pesca em grandes embarcações de arrasto que dizimam as espécies e arrasam os fundos.
Medida 7: Vemos a economia circular como um pilar estratégico para o reaproveitamento dos recursos: prolongar a vida dos bens é essencial, assentando por isso este modelo na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de matérias e energias. A economia circular é uma solução para fazer frente ao aumento do consumo e do consumo desregulado de recursos.
Medida 8: A criação do Hospital Central do Algarve é uma prioridade defendida por sucessivos governos, mas nunca concretizada por um único. É um chavão eleitoral, ponto final. Contudo, não se trata apenas de o construir, mas de criar mecanismos para a captação de médicos e enfermeiros para a região. Dar-lhe qualidade, eficácia e sustentabilidade de recursos é, tanto quanto a sua execução, uma prioridade.
O Algarve tem uma população flutuante muito grande, principalmente na época alta. Se nos queremos consagrar como uma referência, temos de preparar a região também para esses picos populacionais, garantindo a qualidade de vida a que escolheu o Algarve para viver e, ou, visitar.
dRS – Que modelo de desenvolvimento defende para a região?
MM – O MPT defende a regionalização. A falta de investimento na região é gritante, pelo que representa menos de 1% do PIB gerado pela região.
A criação da Região Administrativa do Algarve dotaria a região de uma maior autonomia e eficácia em matérias de gestão de fundos, facilitando o investimento, mas sobretudo, o investimento correto.
dRS – Em que medida a candidatura pode fazer a diferença?
MM – O MPT foi criado em 1993 e tem um caráter humanista, ecologista e tem a família, em todas as suas vertentes, como o pilar da sociedade. É um partido que não tem ligação direta a qualquer outro, pelo que se rege pela defesa dos seus pilares idológicos.
A nossa maior vantagem é essa mesma independência, garantindo a imparcialidade do nosso voto no parlamento: podemos votar ao lado de qualquer partido, desde que a sua proposta vá de encontro aos nossos ideais como partido e como pessoas.
O que pretendemos com a nossa eleição é dar voz e reforço ao Algarve na maior casa da democracia nacional, colocando, impreterivelmente, o Algarve e os Algarvios em primeiro lugar e nunca esquecendo quem nos elegeu.
dRS – Como gostaria de ver o Algarve daqui a 4 anos?
MM – Durante a próxima legislatura, tudo faremos para que a criação da Região Administrativa do Algarve se possa tornar uma realidade. Defenderemos obstinadamente a construção do hospital central e ainda o investimento nas nossas vias rodo e ferroviárias. Que se aproveite o melhor das nossas terras e que os nossos barcos não fiquem, como tantas vezes se vê, em terra. Não esqueceremos, por compromisso de honra, da criação de uma solução para a falta de água e em estratégicas de fixação e desenvolvimento das populações.
É preciso dar voz e corpo à competência dos portugueses. Saber valorizar, internamente, aquilo que se nos é reconhecido lá fora. Competência, capacidade de trabalho, profissionalismo, dedicação, compromisso. Tudo. É tempo de capitalizar cá dentro, aquilo que somos por natureza.
Lista do MPT pelo Algarve
A composição da lista do MPT pelo círculo eleitoral de Faro é a seguinte:
Manuel Mestre
Filipe Nascimento
Catarina Furtado
José Mestre
Maria Catarina Correia
Tiago Gomes
Paula Sousa
Bruno Garcia
Maria Mestre
José dos Mártires Mestre
Teresa Correia
Nota: O jornal diariOnline Região Sul endereçou um conjunto de questões a todas as forças políticas que se apresentam às eleições legislativas, pelo círculo de Faro. Os artigos são publicados durante o período de campanha eleitoral (com exceção das forças políticas que não responderam em tempo útil).