
“O Algarve precisa de um programa de habitação pública” José Gusmão / BE
José Gusmão é o cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) pelo Circulo de Faro às Eleições Legislativas de 30 de janeiro, e em entrevista exclusiva ao jornal diariOnline Região Sul respondeu às questões colocadas sobre o Algarve, região pela qual se submete a sufrágio.
José Guilherme Figueiredo Nobre de Gusmão, nasceu em Lisboa a 20 de julho de 1976, reside em Loulé, é um economista e político português e foi eleito eurodeputado pelo Bloco de Esquerda nas eleições europeias de 2019.
Foi assistente de investigação no Centro de Investigação Sobre Economia Portuguesa (afeto ao ISEG), no âmbito do “Inquérito sobre Utilização de Propriedade Industrial em Portugal”, e investigador no Dinâmia – Centro de Estudos sobre Mudança Socio-Económica (afeto ao ISCTE), no âmbito projeto europeu “A dimensão normativa da ação económica”.
É, há vários anos, um dos autores do blogue sobre economia Ladrões de Bicicletas. sendo co-autor dos livros ‘A crise’, ‘A Troika e as Alternativas Urgentes’ e ‘Economia com Todos’. Enquanto ativista, participou na ATTAC Portugal, no Fórum Social Português, no Fórum Manifesto, na Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida e no Congresso Democrático das Alternativas.
José Gusmão foi deputado à Assembleia da República na XI Legislatura, tendo sido vice-presidente da Comissão de Orçamento e Finanças. Entre 2011 e 2018, trabalhou como assistente no Parlamento Europeu, com Miguel Portas (até ao falecimento deste, em 2012) e Marisa Matias. Integra a Comissão Política do Bloco de Esquerda (BE).
diariOnline Região Sul (dRS): Quais as principais prioridades para a região algarvia?
José Gusmão (JG): Em primeiro lugar, a saúde. A região do Algarve tem sido prejudicada pela falta de investimento e recursos humanos no setor da saúde. Continua a ser adiado o investimento do novo Hospital Central do Algarve, mas também não se investe nos hospitais de Faro e Portimão. É preciso investir nos hospitais existentes, abrir vagas em exclusividade e criar sistemas de incentivos para atrair estes profissionais para a região.
Responder pela habitação. O Algarve tem os preços de arrendamento mais caros do país a seguir à região de Lisboa. A oferta de habitação é sazonal e desencontrada com o ciclo económico. Há casa quando não há trabalho. Há trabalho quando não há casa. A habitação condiciona gravemente a capacidade de atrair profissionais indispensáveis para a economia e serviços públicos, nomeadamente médicos, enfermeiros e professores. O Algarve precisa de um programa de habitação pública e de combater a especulação imobiliária.
Pôr a mobilidade em movimento. A modernização da ferrovia não é só eletrificação. Exige mais horários, acessibilidade para pessoas com deficiência, ligações às várias localidades e articulação com redes de transportes coletivos, em muitos casos ainda inexistentes. Além disso, subsiste o problema da requalificação eternamente adiada da EN125, a que se somam as portagens na Via do Infante.
Construir uma agenda para o ambiente, a água e a energia. O Algarve é rico em recursos naturais, nomeadamente ao nível da água e das energias renováveis. Mas é preciso aproveitá-los de forma sustentável. É preciso combater os fenómenos persistentes de poluição de linhas de água, particularmente evidentes na Ria Formosa, com consequências económicas e sociais. O Bloco tem também apresentado propostas para promover um uso mais responsável dos aquíferos da região, que estão ameaçados pela sobre-exploração, contaminação e intrusão salina. É preciso promover uma agricultura sustentável, orientada para o consumo interno e responsável do ponto de vista do consumo de água. Finalmente, a região tem de ter uma estratégia para a promoção da transição energética, nomeadamente através da crescente auto-suficiência em edifícios públicos, da microgeração e das comunidades energéticas.
Finalmente, os cuidados. A região do Algarve tem várias regiões envelhecidas e carências graves ao nível dos cuidados à 3ª idade, em todas as suas valências. Tem também uma oferta muito insuficiente de creches, que prejudica a natalidade e a fixação das famílias. O BE tem defendido e apresenta como prioridade a constituição de redes públicas gratuitas de creches e lares de idosos, que respondam pela política de cuidados, o pilar do Estado social que continua por construir.
dRS: Que medidas imediatas devem ser adotadas?
JG: Investimento e contratação de profissionais nos Hospitais de Faro e Portimão.
Construção de Habitação Pública e criação de uma bolsa de arrendamento a custos controlados
Modernização da linha ferroviária do Algarve e criação de uma rede de transportes coletivos com passe intermodal regional.
Rede Pública gratuita de lares de idosos e creches e modernização do parque escolar.
Investimento no saneamento básico, no sentido do tratamento e combate ao desperdício de água
Limitação da agricultura superintensiva e apoio à formas sustentáveis de agricultura e circuitos curtos de distribuição.
Diversificação da oferta formativa profissional e universitária.
dRS: Que modelo de desenvolvimento defende para a região?
JG: Defendemos uma região que desenvolva uma economia mais diversificada e sustentável, com maior valor acrescentado e menor sazonalidade. Isso significa ter uma oferta turística mais disseminada no território e ao longo do ano. Defendemos também o reforço de fileiras produtivas a partir da produção agrícola e das pescas, orientando estes setores para uma oferta diferenciada e para o consumo interno. Estas escolhas permitem também uma maior estabilidade e valorização do trabalho numa região que tem a remuneração mensal média mais baixa do país e níveis elevadíssimos de precariedade.
dRS: Em que medida a candidatura pode fazer a diferença?
JG: No Algarve, as forças do bloco central elegem 8 dos 9 deputados. O outro deputado é eleito pelo Bloco de Esquerda. É o BE que se tem batido pelos investimentos que PS e PSD sistematicamente prometem e depois adiam. Em 2019, o PS pediu mais um deputado e conseguiu-o. Nada mudou. Manter e reforçar a representação do BE é a forma de assegurar que o bloco central não fica com controlo total do distrito. É a melhor forma de dar força à força que se tem batido pelos investimentos de que o distrito precisa. É incompreensível que uma região que contribui tanto para a riqueza do país seja tão esquecida do ponto de vista infra-estrutural. O BE é a força que tem feito e vai continuar a fazer este combate.
dRS: Como gostaria de ver o Algarve daqui a 4 anos?
JG: Gostaria de ver o Algarve com uma economia que funciona todo o ano em todo o território, com contratos de trabalho permanentes. Uma região com boas ligações, de Sagres a Vila Real de Santo António, da praia ao barrocal, dos grandes centros urbanos ao interior algarvio. Uma região em que a casa é para ficar e não para sair em maio ou junho. Uma região em que o acesso efetivo à saúde, à educação e aos restantes serviços públicos seja uma realidade.
No que concerne à composição da lista candidata do BE pelo círculo eleitoral de Faro, que tem como mandatário distrital João Vasconcelos, com 65 anos, Professor (Deputado na Assembleia da República), é a seguinte:
José Gusmão, 45 anos, economista (Eurodeputado) - Cabeça de Lista
Igor Gago, 23 anos, estudante universitário, Olhão
Sandra da Costa, 44 anos, investigadora/Professora, Albufeira
Inês Gonçalves, 31 anos, administrativa, Portimão
José Varela, 30 anos, psicólogo (independente), Faro
Maria Helena Baião, 56 anos, jornalista, Loulé
Aníbal Coutinho, 58 anos, médico, Faro
Célia Gonçalves, 40 anos, investigadora, Faro
Jorge Ramos, 58 anos, engenheiro de telecomunicações, Lagoa
João Rodrigues, 25 anos, médico, Lagos
Tatiana Pacheco, 30 anos, bancária, Vila do Bispo
Adriana Cotovio, 25 anos, estudante universitária, Tavira
João Bárbara, 49 anos, bancário, Portimão
Alexandra Alvim, 55 anos, atriz, Loulé
Nota: O jornal diariOnline Região Sul endereçou um conjunto de questões a todas as forças políticas que se apresentam às eleições legislativas, pelo círculo de Faro. Os artigos são publicados durante o período de campanha eleitoral (com exceção das forças políticas que não responderam em tempo útil).